Tragédia no Brasil
Ele estava envolvido em seu
roupão de seda quando ouviu a notícia sobre a tragédia no Haiti. Ora, ele,
homem sensível que era, e possuidor de grandes riquezas não poderia deixar de
arregaçar as mangas para ajudar aquele povo sofrido. Parou um instante defronte
da janela e olhou para rua. Viu um mendigo robusto a pedir um prato de comida e
disse para si: “um vagabundo desse, forte, pedindo comida enquanto os pobres
morrem sob os escombros!”
Decidiu sair. Chamou a empregada
e disse-lhe que ia ajudar o povo do Haiti. Ficou estupefato quando a empregada
perguntou-lhe se ele viajaria ao país. Como? Que idéia! De onde a empregada
tirara tal idéia? Ele, homem sensível, ficar exposto a todo tipo de doença?
Não, esta idéia só poderia ter vindo da vassalagem! O máximo que poderia fazer era
ir ao banco e mandar uma boa quantia para o país!
Ao sair, viu novamente o mendigo
e falou entre os dentes: vagabundo! Tomara que um carro o atropele! Uma
tragédia destas deveria ter acontecido no Brasil para acabar com esta gente
vagabunda!
Mal acabou de falar e o pobre
mendigo já estava debaixo do carro. Sentiu-se todo poderoso! Homem que até o
destino obedece. Encaminhou-se ao banco e mandou grande quantia ao Haiti.
Ao sair do banco, viu um operário
sobre o prédio e quis brincar novamente com o destino. Queria que ele
despencasse e o destino obedeceu! Fez grande contribuição ao Haiti, seus
pecados já estavam pagos.
Passou entre as pessoas, que
choravam assustadas com o acontecido e ao olhar para o lado, viu uma bailarina
que dançava ao vento, como se não percebesse a tragédia. Viu o vestido leve
dançando ao vento com a bailarina e ordenou ao destino que o tecido a
enforcasse. O destino mais uma vez obedeceu. Pecado? Qual! Tirara apenas três
vidas, mas salvara tantas no Haiti!
Voltou para casa e encontrou a
empregada sorridente e cantando, enquanto labutada. Irritou-se com a voz
estridente da emprega e fez um último pedido ao destino, mas não pediu direito.
Queria que a casa da empregada caísse sobre ela, sem perceber que a única casa
que a empregada tinha era sua própria casa.
Subiu ao quarto. Vestiu seu
roupão de seda. Acendeu seu charuto cubano. Passou seu melhor perfume. Abriu o
cofre, contou o dinheiro e depois lembrou do dinheiro que enviara ao Haiti. Arrependeu-se.
Fechou violentamente o cofre e sua mansão sentiu sua violência e caiu sobre a
empregada...
...e sobre ele também!
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