segunda-feira, 30 de abril de 2012


Lauro Corona, Aquele Que Partiu!
Por: Larry Redon
Em 20 de Julho de 1989 o Brasil perdia um dos seus maiores atores. Lauro Corona era um ator que encantava os telespectadores não apenas por sua beleza, mas pelo grande talento que exibia nas novelas globais.
Infelizmente, a década de 80 marcou a chegada do vírus da AIDS ao Brasil, que levou muitos brasileiros à morte e o nosso querido ator foi uma das vítimas da maldita doença, segundo comentários da época.
É lastimável que na época de Lauro, o mundo ainda conhecia pouco a doença, e por temer o preconceito ele se recolheu na casa da família para viver os seus últimos momentos, deixando milhares de fãs órfãos de seu talento.
Ao escrever esta coluna, chega a minha memória muitas imagens da novela “Direito de Amar”, a penúltima novela do ator, onde ele viveu momentos incríveis ao lado de Glória Pires, na pele do médico Adriano.
Lembro-me que com apenas oito anos, admirava o trabalho do ator, numa das melhores novelas já produzidas pela Rede Globo de Televisão. O talento do ator brilhava ao lado da belíssima reconstituição de época da novela de Walther Negrão, inspirada na obra de Janete Clair.
A cena do baile de máscaras me acompanhou durante muito tempo e sua voz não saia da minha cabeça de menino, achando incrível a interpretação do jovem ator no vídeo. Todos os dias às 18h00, ficava defronte à TV admirando o talento do rapaz e desejando ser ele, ser um grande ator como ele. A música de Ivan Lins, Iluminados, colaborava para os meus devaneios e eu amava o talento do grande ator: “O amor tem feito coisas que até mesmo Deus duvida...já curou desenganados...já fechou tantas feridas!” Ironicamente, era o começo do desengano de Lauro e de todos que o amava.
Resta-me agora lembrar-me e tentar “imitar” o seu talento! e quando aquele menino decide voltar a mim, fecho os meus olhos, imagino o baile de máscaras e o ouço dizendo para a personagem de Glória Pires: “Mademoiselle, feliz 1901, 1902, 1903...”
Para mim, o baile de máscaras ainda não acabou e ele brinca dentro de mim toda vez que entro num palco! Então, aplausos para aquele que partiu para dentro de mim!

Colaboração de Imagem do site: futrico.

domingo, 29 de abril de 2012

Teatro: Uma Grande Paixão!


Teatro: Recordar é viver!


Teatro: Velhos Tempos!


Teatro: Bons Tempos!


Coisas de Teatro: O Velho Pantalone!


Tempo de teatro!


Fazendo teatro!


Eu, no teatro!


Meus livros!

http://www.clubedeautores.com.br/books/search?what=larry+redon&sort=created_at&commit=BUSCA

A Carola


A Carola



     Vestida de branco e com seu guarda-chuva azul, ela parece um anjo caído do céu. A pele branquinha, marcada pelo tempo, mas com traços ainda da beleza juvenil, faz de Leonor, uma verdadeira divindade naquela cidade interiorana.
     Para quem diz que a pele reflete aquilo que a alma sente, não entenderá o porquê das turbulências internas desta mulher que dedicou sua vida toda a Cristo e fez dele sua única paixão aqui na Terra e com promessas divinas de continuá-la no céu, não ser demonstrada na sua pele sempre serena.
     A eterna donzela de Cristo sai poucas vezes de sua humilde casa, porém, não perde uma missa e faz questão de ser o exemplo do Criador para as humildes criaturas que a tem como um exemplo de bondade e fidelidade ao Todo-Poderoso!
     Não é arrogante com os seus irmãos na igreja nem apedreja o pecador, ao contrário, prega sempre a bondade entre os seus semelhantes, mas não a diz em alto e bom som, prefere demonstrá-la praticando-a aos olhos de seus semelhantes.
     Na sua residência, poucos móveis adorna sua salinha, apenas uma mesa de jacarandá e uma moringa onde deposita as flores que colhe do campo toda manhã. Na parede, um quadro do seu noivo, é sua única proteção contra qualquer mal que possa atacá-la em sua solidão.
     Leonor, a esposa de Cristo, adora-o noite e dia! Nas noites de luar, se despe diante da imagem e acaricia os seios diante do Criador, mas depois com ar de arrependimento, tranca-se no seu quarto, ajoelha e pede perdão, prometendo repudiar seus sentimentos. Porém, no dia seguinte, volta a cair em pecado e diante da imagem banha-se nua, numa bacia cheia de pétalas de flor. Arrependida, novamente, recusa-se a encarar a imagem e sai para o seu quarto, sentindo-se suja, pronta para agüentar os seus pesadelos noite a fora.
     Em muitos dos seus sonhos, aparece entre Deus e o diabo, ambos disputando-a como  noiva e possuindo-a no meio dos fiéis que tanto aplaude a santidade da carola, que em breve subirá aos céus para reencontrar seu noivo.
     Todas as manhãs vai com a mesma serenidade à igreja com a intenção de confessar ao padre seus delitos, mas ao ver a imagem de Cristo ao lado da sacristia, compreende que seu noivo prefere que o seu segredo seja revelado na eternidade, então, volta serena para sua casa, aos olhos dos pecadores da cidade que acenam para ela com ar de devoção.
     Chegando à casa, olha para a imagem com olhos de pecadora, mas a imagem a convence de que não fizera nada que uma boa noiva não faria pelo seu noivo e ela contente corre para o campo, colhe flores, prepara sua bacia, põe sua camisola de linho branco e se prepara para despir-se na frente do noivo, mas ao entrar em casa, percebe que a imagem de Cristo fora tirada de sua parede.
     Perturbada, começa a ouvir vozes, afirmando que seu Noivo fora destruído, que ele perdeu a luta para o anjo caído, aquele que faz maldade e que continua com a mesma serenidade na pele. Ele, o diabo, era como Leonor, bonito por fora, mas podre por dentro. Ela tinha sido escolhida para ser sua parceira na eternidade.
     A carola com sua cara de anjo começa a rezar, mas o diabo está decidido! Beija-a! Tira sua roupa e ri de suas orações!
     A beata invoca o nome do noivo e parece ouvi-lo chamar para ir à igreja, mas a porta de sua casa não abre. O diabo parece querer sufocá-la, prendê-la em sua casa por toda a eternidade.
     De repente, como milagre, muitos santos aparecem na humilde residência e começa a duelar com o diabo, obrigando-o a curvar e deixar a esposa de Cristo em paz e no meio de tanto tumulto, o diabo exala no ar, levando consigo a casa da pobre Carola, que fica sem teto e nua ao luar no meio das flores implorando pela bondade do seu esposo.
     Nada ouve. Até o vento parece ter parado de tocar o seu corpo. Grita o nome do Criador, mas ele não a ouve. Está só. Sente-se só! Corre para a igreja aos prantos, exigindo uma resposta do seu noivo. Bate na porta da igreja. Acorda o padre e toda a cidade. Nua, exige ser possuída pelo Criador. Todos apavorados não acreditam no que estão vendo.
     A carola corre para o interior da igreja. Rouba a imagem de Cristo. Desce os degraus e  exibe ao povo a imagem do seu noivo, acariciando-o, passando-o sobre seu corpo e exigindo dos fiéis que beijem  suas mãos ou receberá um castigo do seu noivo.
     O povo assustado olhava para a imagem e ouvia a ordem do noivo, que ordenava que todos obedecessem a sua noiva e assim todos começaram a beijar a mão da noiva de cristo, mas à medida que iam beijando, eram transformados em estátuas.
     E assim a noiva de Cristo percebeu que agora estava sozinha na cidade, sem ninguém para admirar sua bondade, sem ninguém para aplaudi-la pela cidade. Seu rosto foi ficando escuro, seus traços já não eram mais suaves e num rompante jogou a imagem de Cristo escada abaixo e se ajoelhou diante do povo, exigindo aplauso, mas em vão, pois todos tinham virado estátuas e ela estava só na cidade, nua, sem teto, sem sorrisos e agora rogava aos céus para ser transformada também em estátua, mas o céu não a ouvia, ninguém a ouvia e pela primeira vez desejou ser a noiva do diabo e seu desejo se cumpriu.
     O diabo desceu dos ares para buscar sua esposa e ela sorriu para ele e o seguiu sem olhar para trás, por isso, não percebeu que Cristo desceu  do céu, pegou o véu de sua “ex-noiva”, enrolou os cacos de sua imagem e num gesto de bondade destruiu todas as outras imagens que tomou conta da cidade e levantando sua mão, fez  aquela cidade virar trevas...


Imagem: Divulgação Web.

A HORA E A VEZ DE RITA DE CÁSSIA


A Hora e a Vez de Rita de Cássia

Teatro: A Hora e a Vez de Rita de Cássia
Autor: Larry Redon

Casa comum no morro. Rita de Cássia, cansada das armações do marido, decide mudar de vida: quer deixar a vida de dona de casa e cair na gafieira.

Rita de Cássia (falando consigo): Rita de Cássia vai mudar! Rita de Cássia precisa mudar! Chega de varrer casa, de lavar louças, enquanto o malandrão vai para a gafieira. Rita também merece ir para a gafieira. E não adianta mais ele vir com aquele jeito de vem cá minha nega, querendo me convencer com aquela lábia de malandro; agora chega, chegou a hora e a vez de Rita de Cássia!
Becão (entrando): Que é isso, mulher?! Aonde tu pensa que vai com essa arrumação toda? Até profume tu tá usando!
Rita de Cássia(provocando): Perfume, ignorante! Mas se o bonitão quer saber, vou pra onde você acaba de vir!
Becão (fingindo inocente): Pra Igreja! Oh, minha santinha, você é a nora que mamãe pediu a Deus!
Rita de Cássia (irritada): Como que é, Becão? Então você quer me convencer que estava na Igreja? E o que as freirinhas fizeram com você? Vamos, me conta, estou interessada em saber...
Becão (sem graça): Ora! O que eu poderia estar fazendo com as santas freirinhas...
Rita de Cássia (esperando resposta): Sim, o quê?
Becão (achando uma boa resposta): Estava usando o pincel!
Rita de Cássia (escandalizada): O quê?
Becão (corrigindo): Usando o pincel pra pintar a Igreja, afinal eu sou um pintor razoável, né neguinha?
Rita de Cássia (tirando sarro): É isso mesmo: só é razoável...
Becão (mostrando-se galante): Que é isso...você sabe que o maridão não faz feio! Hein...confessa, vai...
Rita de Cássia (irônica): Não sei. Eu nunca experimentei outros pincéis pra comparar. Mas agora chegou a hora e a vez de Rita de Cássia: Rita de Cássia merece experimentar outros pincéis!
Becão: Tu quer me colocar peruca de touro, mulher? Rita de Cássia, já pra dentro, tira esta roupa e já pra cozinha!
Rita de Cássia (irônica): Não fique zangado, meu bem! Rita de Cássia vai a mesma Igreja que você foi. Rita de Cássia vai vira pintora. Rita de Cássia precisa aprender a pegar no pincel...
Becão (Zangado): Rita de Cássia! Eu sou teu marido, tu me deve obediência!
Rita de Cássia (desfilando, pirraçando): Rita de Cássia vai desfilar pelo morro, vai andar pela gafieira, vai ser desejada por todos os homens!
Becão: Tu tá assistindo é muita novela, mulher! Se eu pegar tu com outro, tu sabe o que acontece...
Rita de Cássia: Rita de Cássia não tem mais medo do seu marido. Rita de Cássia agora é cidadã do mundo, é mulher renovada, consciente de seus desejos e de suas necessidades.
Becão: Espera aí: esta frase foi a Regina Duarte que disse ontem na novela!
Rita de Cássia: isto significa que eu tenho bom gosto. Aliás, Rita de Cássia só teve mau gosto uma vez na vida. (magoada)
Becão: já sei: quando decidiu cair na gafieira?
Rita de Cássia: Não, quando me casei com você!
Becão: Oh, neguinha! Não faz assim com seu negão. Volta a ser o que era antes, volta! Volta a ser minha Rita de Cássia. (meloso)
Rita de Cássia (quase cedendo): Não pense que vai me convencer com esse jeito meloso, não. Rita de Cássia é agora cidadã do mundo, consciente de seus desejos e de suas necessidades...
Becão: Oh, minha amada! A quem dedico todos os segundos de minha vida, amar-te-ei até o meu último suspiro, pois és a dona de minha vida, a minha dona...
Rita de Cássia: Espera aí: esta frase não foi o Tony Ramos que disse ontem na novela?
Becão: Pois é, Tony Ramos, Regina Duarte...viu como nós nascemos um pro outro...você é minha alma gêmea, neguinha...
Rita de Cássia (melosa): Fala de novo, fala neguinho...
Becão: Você é minha alma gêmea, neguinha...perdoa seu negão, perdoa...
Rita de Cássia: Rita de Cássia é uma cidadã do mundo, logo consciente que não pode viver sem teu amor, neguinho. Rita de Cássia perdoa, pois chegou a hora e a vez de Rita de Cássia Ser Feliz.
Beijam-se!

Um Gay em Copacabana

Autor: Larry Redon


Ele chegou. Mas não chegou de qualquer jeito. Veio com roupas leves balançando ao vento! Tinha uns gestos delicados e as crianças do Rio de Janeiro achavam tudo aquilo uma beleza incomum. Passava as tardes andando pelas areias do mar, com o seu chapéu branco e um anel dourado com pedras azuis, da cor dos seus olhos.
Tinha por volta dos seus cinqüenta anos e uma pele que brilhava ao toque dos raios de sol de Copacabana. Ficava horas com o olhar ao longe, talvez lembrando um grande amor do passado.
As crianças vinham brincar com ele e os pais, que também admirava o seu porte, sorriam da felicidade que era ver aquele ser esvoaçante ao lado das crianças e com a mesma pureza de alma.
Seu olhar tinha um brilho tão intenso, que ao vê-lo tinha a mesma sensação de estar olhando para o próprio mar. Não era morador da cidade. Vinha a cada temporada, mas quando chegava era como se o mar acariciasse o seu filho pródigo.
Nunca tinha companhia. Todas às vezes que vinha ao Rio de Janeiro era sem companhia. Era um  homem que ninguém conhecia, que não sabia seu nome, nem de onde vinha nem para onde ia. Só sabia que ele amava aquele mar e o mar o amava com a mesma intensidade.
Corria pela a areia, brincava com o vento e a chuva nunca vinha enquanto ele estivesse no mar. Ninguém via, mas quando o seu olhar estava jogado ao mar, era um jovem que ele via.
O jovem tinha pele branca, usava roupas e chapéu branco e sorria sempre para ele pedindo para vir ao seu encontro. Todas as vezes que viera a praia recusara-se a ir ao encontro do marinheiro que o chamava, mas desta vez estava disposto a ir com ele.
Já havia programado este momento, mas não queria que as crianças o vissem sumir nas águas, pois não desejava que nada toldasse a beleza que imprimira na alma dos seus pequeninos.
Chamou as crianças e também chamou os pais dos seus pequenos anjos e disse-lhes que precisava de rosas de muitas cores para jogar ao mar. Abriu sua pequena bolsa, tirou alguns trocados e pediu-lhes para que comprassem as suas rosas prediletas. Além das rosas, puxou da bolsa um envelope decorado com letras douradas, que já estava amarelado pelo tempo e pediu para um dos pais que se acaso não o encontrasse quando voltasse, jogasse-o ao mar.
Quando todos saíram, o gay de Copacabana olhou novamente para o mar e viu o marinheiro chamá-lo. Correu para os braços do rapaz de branco e desceu às águas, feliz!
Ao longe, podemos ver as crianças correndo com as mãos cheias de rosas para abraçar o gay de Copacabana, mas ao chegar vê apenas ondas brilhando ao sol e batendo lentamente na areia.
O envelope dourado destaca-se na mão do pai e ele tem a certeza que na sua mão está um segredo de toda uma vida. Pensa em abri-lo, mas resiste! Acha que esta história deve acompanhar o seu dono na viagem eterna! Joga-o ao mar enquanto as crianças jogam as rosas ao mar e todos são agraciados com a mesma paz que possuía o Gay de Copacabana.

Minha participação no clipe!

http://www.youtube.com/watch?feature=player_embedded&v=k2RpNtcMAB4

Explicação


Explicação

Por que não explico o queres saber?
Porque não sinto vontade de explicar
Tudo na vida é tolo e tão simples
Que rio da mesquinhez humana

Tudo que é grande para o homem
Para mim parece tão pequeno
Que não sinto vontade de explicar
E também já não penso nem sofro

Não te assustes comigo, criança
Não vale a pena, acredite
Pois eu também já me assustei
E hoje, não penso, apenas acredito

Que há uma força cruel, superior
Que nos condena a carregar a cruz
E minha cruz encontra-se gasta pelo uso
Por isso não sofro, nem explico

Vida



Vida

Há muito tempo que a vida
Não me interessa deveras
E há muita gente nos hospitais
Mendigando um pouco de vida

Como é contraditória a vida
Quem quer não a tem como prêmio
Quem não a quer recebe flores diárias
Mendigo a morte, recebo esmolas de vida

Preciso cortar o cordão umbilical
Que me mantém preso a amargurada vida
Preciso lavar o lençol sujo de sangue
Antes da hora da sonhada partida

O pouco sangue que bombeia o coração
Já enferruja a máquina criadora de emoção
Quem sabe quando parar a velha máquina
Encontre a vida a sorrir, perdoando meu desatino

O Banquinho


O Banquinho

Limpe o banquinho e me espere
Preciso cumprir o combinado
De morrer junto contigo
Em dia e hora marcada

Não se esqueça de queimar o véu
Que usastes com o teu amado
Se queimares, acreditarei,
Que não casastes de caso pensado

Faça ressurgir das pálidas cinzas
Aquele meu convite negado
Enterre o teu sim dado ao outro amado
E Acreditarei que não destes de caso pensado

Mas só acreditarei de verdade em teu amor
Se antes de mim, tomares o cálice envenenado,
Acreditando que meu amor ainda é tão forte
E belo por ti  como era em nosso passado



Velho Chico

Ele escorre pelas peles morenas
E nas montanhas molha o pé da pequena
Da rapariga que todos querem amar

Ele dança com todas as meninas
Sabe cantar com pássaros e fazer rimas
E debochar de quem o quer matar

Baila com peixes e dança ao sol
Prendem-se as redes sem evitar o anzol
E molha a terra infértil ao sorrir

De Velho Chico ele é chamado
E é o mais gentil e belo namorado
Sabe morrer por amor aos seus...

Valei-me


Valei-me

Valei-me virgem santíssima
Mãe do imaculado Jesus
Que viste teu filho dar a vida
Pregado em tão dura cruz

Rogai diante do teu filho
Para não me deixares aqui
Sem rumo, sem motivo de vida
Sem ter alegria e amor

Oh, mãe que sofreste o escárnio
Que muitos sopraram ao seu filho
Não permitas que outros me façam
A cilada que fizeran ao cordeiro

Imaculada e sempre piedosa
Livra-me do escárnio do mundo
Lembre-se do seu filho adorado
Em seu pesadelo profundo

Lembre-se também do vento
Que soprou naquela colina
Afastai da minha vida
Toda maldade do mundo

A ti minha Virgem Maria
Mãe dócil e protetora
Peço-lhe que rogue ao seu filho
O meu direito sobre minha vida

Desmotivo


Desmotivo

Eu não canto porque o instante existe
Canto porque sou triste e insano
Canto porque meus instantes são pícaros
E a canção afasta-me da insensatez

Se Cecília era feliz com seus instantes
Busco uma Cecília que me complete
Que rompa o véu que me esconde
E edifique-me em horas incertas

Ainda não sou poeta; fico com o triste
Sou triste; o amor não me fez poeta
Não sei falar de sentimentos amorosos
Logo, não sou um verdadeiro poeta

Desmorono mais que edifício; estou falido
Falido de instantes, de inspirações
O meu mundo está triste e pichado
Não tenho dúvida: não fico, passo!

Também sou como a poetisa Cecília
Sei que canto, mas não sei o que canto
Para ela a canção tem asas ritmadas
Para mim, falta-me asas para ritmá-la

Ainda não estou mudo e não ficarei
Recuso-me a aceitar que perdi as asas
Recuso-me a ouvir minhas certezas
Recuso-me a ser pássaro inválido

Sou Ator



Sou ator

Sou ator! Sou aquele que mendiga o sorriso
Sou ator! Sou aquele que liberta o oprimido
Sou ator! Sou aquele que partiu do paraíso

Sou a praça! Acolho os fracos e excluídos
Sou a praça! Acolho os amores impossíveis
Sou a praça! Acolho a lua e os astros caídos

Sou o palco! Sou pai dos textos proibidos
Sou o palco! Sou cinzas da inquisição
Sou o palco! Sou carícia nos rostos inibidos

Sou cortina! Recuso-me a ficar fechada
Sou cortina! Recuso-me a ficar apática
Sou cortina! Recuso-me a ficar calada

Sou a luz! Ilumino as mentes solitárias
Sou a luz! Ilumino as trevas dos incautos
Sou a luz! Ilumino as guerras libertárias

Sou ator! Recomeço do que foi proibido
Sou ator! Levanto os palcos caídos
Sou ator! Luto para não ser esquecido

Epitáfio


AUTOR: LARRY REDON

Continuo imóvel como sempre fui
Continuo aflito como sempre fui
Continuo triste como sempre fui

Continuo leigo como sempre fui
Continuo pobre como sempre fui
Continuo verme como sempre fui

Continuo mudo como sempre fui
Continuo surdo como sempre fui
Continuo cego como sempre fui

Continuo leve como sempre fui
Continuo bobo como sempre fui
Continuo puro como sempre fui

Continuo amigo como sempre fui
Continuo irmão como sempre fui
Continuo filho como sempre fui

Continuo digno como sempre fui
Continuo honrado como sempre fui
Continuo sonhador como sempre fui

Continuo aqui. Continuo aí. Não fui.

Aqui Jaz a alma que sempre fui...
...E quem poderá negar?

sábado, 28 de abril de 2012

A Gaiola


O Duelo


Poema: Decadência da Cadência


Guias de Luz

Amores e Rumores

Autor: Larry Redon
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A vida é sempre plena naquela cidade. Ao acordar, seus moradores já se deparam com a linda lagoa disputando o seu brilho com o sol, sem saber que sem ele, não passa de apenas uma porção de água sem claridade. Assim como a lagoa, vive Lúcia, sempre ostentando um brilho que não é seu: é do seu marido e escravo.
Ela nunca fora nada, mas doutor Ricardo sempre fora tudo. Homem de grande inteligência, amado por todas as mulheres da cidade e também pelos próprios maridos destas mulheres, que se não o desejava como homem, desejava sua inteligência e posição social.
Doutor Ricardo, além de bem apessoado, tinha a beleza da generosidade, que dá aos homens certa sensualidade, que só os amantes generosos podem ter. Apesar de sua beleza, Ricardo nunca fora capaz de trair sua adorada Lúcia, mesmo desconfiando que ela não era mulher de um homem só. Era adorado por todas as mulheres, mas sempre as afastava jogando em suas faces, o amor incondicional por Lúcia.
Junto a Lúcia e Ricardo, vivia Petrônio, um ser tão sem brilho quanto Lúcia, que vivia às custa de Ricardo. O rapaz chegou à pequena cidade, apresentando-se como empresário falido e doente, atraindo a bondade do médico, que o levou para própria casa, sem saber que ele se transformaria em amante de sua amada Lúcia.
Os Rumores eram constantes na pequena cidade. A vida conjugal do médico era assunto nos botecos, na praça, nos salões de beleza. Todos sabiam da traição de Lúcia, mas Drº Ricardo parecia não saber e isso causava revolta na população.
Porém, doutor Ricardo sempre soube da traição da mulher e ao contrário do que as pessoas podiam imaginar, ele adorava saber que Lúcia o traia com Petrônio. Em sua visão, a mulher o traía porque o amava e ele teve prova disso quando pegou Lúcia na cama com o amante pela primeira vez.
O fato ocorreu num dia de chuva, quando doutor Ricardo se ausentara para acudir uma mulher que estava  dando a luz. Ao retornar à casa, ouviu os gemidos da mulher se entregando loucamente ao amante e estático olhava para a cena, planejando o homicídio com requinte de crueldade. Mas, de repente, voltou a si e sorriu com o sorriso de um demônio, que apareceu pela primeira vez em sua face. Neste momento, toda a malícia humana penetrou o corpo do médico e ele passou a desejar estar mais vezes naquela cena, mesmo que fosse como espectador.
Passou a mentir para Lúcia. Marcava consultas e sempre voltava mais cedo para vê-la ao lado do amante e adorava quando ouvia a mulher chamar o amante de Ricardo. Petrônio também adorava quando a amante o chamava pelo nome do seu marido, pois por uns minutos ele se sentia tão importante quanto o médico e entre gemidos e pedidos de amantes, mal podiam perceber a presença doentia de Ricardo.
Os rumores corriam pela cidade e Ricardo agora sabia de tudo. Ele sentia cada vez mais amado pela cidade, que acusava Lúcia de traidora e o médico de “bom-homem”.  Ricardo adorava a imagem da mulher sendo pichada pelo povo da pacata cidade. Ele, homem bom que fora, agora era bom por maldade e impureza de alma. Passava horas desejando a mulher e amando ardentemente o amante dela, pois acima do amor que o médico sentia pela mulher, estava a vontade de ser adorado como profissional e Petrônio o amava como homem de sociedade, homem que era tudo que ele sonhou ser na vida, mas sua mediocridade não deixara.
A situação na pequena cidade tornou-se insustentável e Lúcia tremia de medo de perder, não a Ricardo, mas o brilho que ele dava a sua vida em sociedade.
Caiu pela última vez nos braços do amante e o dispensou sem saber que o médico via tudo e gemia junto com eles. Petrônio concordou com a amante e aproveitou para tirar-lhe algumas jóias. Percebendo a decisão dos amantes, Ricardo revela-se e num ato desesperado implora para que Petrônio fique. Assustados com a revelação do médico, os amantes se recusam a ficar, mas depois cede. Hoje no casarão iluminado de doutor Ricardo haverá amor a três. Lúcia perfuma o lençol, Petrônio veste a roupa branca do médico e Ricardo molha-se no banheiro. Lúcia e Petrônio gemem na cama, enquanto o chuveiro explode e Ricardo morre eletrocutado. Os gemidos do amor misturam-se com os gemidos da morte.


Imagem: Karol Bak.

Os Seios da Cabrocha


Os Seios da Cabrocha

Autor: Larry Redon

     A Bahia tem mistérios, que só o mar conhece. O mar é a grande testemunha dos amores secretos da Bahia. Em noite de luar, ele aquece o corpo da cabrocha que se entrega a ele sem pudor. O mar com suas ondas suaves acariciam a pele das cabrochas e dos meninos. Para o mar não há diferença entre meninos e meninas, ele vive para amar e provar todas as delícias do mundo. O mar ama a todos, mas quem o enlouquece é a cabrocha Alzira, que em noite de luar aparece nua para o mar, por trás das alvas cortinas, que balançam na janela da casa praieira.
     O mar deseja beber todo suor da morena Alzira, que parece despir-se para ele, mostrando todo o corpo banhado de luar nas noites misteriosas de Salvador. Mas o mar não se ilude, pois sabe que a cabrocha exibe-se para todos os pescadores, mas mesmo assim, por alguns segundos o mar prefere acreditar que a morena pertence somente a ele.
     O mar que normalmente é manso na Bahia, quando vê a imagem de Alzira se agita, bate suas ondas nas pedras como adolescente que procura os primeiros prazeres da vida. Nestas noites o mar fica insano, vira cúmplice do vento, que o auxilia tocando os seios da cabrocha, endurecendo-os e arrepiando todo o seu corpo.
     Com a ajuda do vento, o mar deseja ser sereno, mas não consegue ao ver Alzira passar a mão pelo corpo, apalpar suas coxas, gemer e passar as mãos nos lábios secos de prazer. O mar também geme e quando ele geme o pescador Rufino sabe que Alzira está precisando de um pescador na sua cama.
     Nestes dias para Rufino não há pescaria, tudo o que ele quer é acalmar o mar e acalmar também a Alzira. No meio do mar com o seu barco, o pescador luta contra a fúria do mar para chegar aos braços da cabrocha, mas o mar ainda não atingiu o orgasmo, o mar continua batendo nas pedras com violência.
     Rufino não resiste, tira sua roupa, fica também nu ao luar, entrega-se à fúria do mar, pois sabe que ele também fica sereno com os rapazes e o mar abraça o pescador, o faz tremer e ficar ofegante com sua água gelada. O pobre rapaz geme, grita o nome de Alzira, mas sabe que nesta hora só o mar o tem, só o mar é o seu senhor. O pescador quer se tocar, mas resiste, sabe que Alzira o espera e dá o mínimo ao mar, pois quer entregar-se totalmente à cabrocha. O mar entende o pescador e o libera, jogando-o à terra, pois sabe que depois ele voltará.
     O pescador chega à casa de Alzira, nu, banhado de luar. Alzira o vê pelas brancas cortinas. Corre ao seu encontro. Investiga o seu corpo, beija sua orelha, lambe o seu pescoço, cheira o seu tórax, põe o dedo no seu umbigo e mais embaixo encontra aquilo que estava a sonhar.
     Alzira não quer entrar na sua casa, olha para o mar e quer possuir o pescador ali mesmo, tendo apenas o mar e o luar como testemunha. Os gemidos ganham o céu da Bahia e o mar volta a ficar agitado, ainda resta-lhe  um pouco de fúria.
     O mar grita pelo vento, mas ele não atende. O vento também é cúmplice de Alzira e Rufino, sabe que aquele é o momento dos dois. O vento fica junto dá lua espiando e rindo da inveja do mar.
     Mas o mar está cheio de desejo. O mar que possuir Alzira e também a Rufino. O mar sabe que tem poder maior que o homem e que não precisa do vento. O mar lança o seu olhar fascinante para o casal e eles não resistem ao olhar lúbrico do mar e caem nas águas violentas do mar.
     Neste momento, a lua vira cúmplice do mar, convence o vento a entrar na dança e tudo é clarão. Os seios da cabrocha são iluminados e o mar possui violentamente o pescador e a cabrocha.
  

Uma como Madalena


Uma como Madalena

Apedrejaste-me Senhor
Quando me deste a cor morena
Quando fizeste de meu poema
Um cântico fúnebre de amor

Apedrejaste-me Senhor
Quando esculpistes o meu corpo impuro
Quando molhastes de orvalho humano
Orvalho de homem sem amor

Apedrejaste-me Senhor
Quando me fizeste inocente
Quando me prendeste a corrente
Do dinheiro sedutor

Apedrejaste-me Senhor
Quando me deste uma vulva
Que de rosa casta e pura
Recebe o impuro licor

Apedrejaste-me Senhor
Quando me fizeste puta e mulher
Quando destruiu a fé
Desta filha, mãe e puta

Tecido de Seda









Tecido de Seda

Deitada sobre a esteira rústica
Pernas brancas cobertas apenas
De um leve tecido de seda
Aberta, esperando o toque das mãos

O tecido vermelho brilhando ao sol
Os olhos fervendo disputando o brilho
Com o vermelho tecido de seda
Denuncia o vestígio de uma louca paixão

Pernas brancas, seios brancos brigando
Com o leve tecido que cede indecentemente
Compactuando com os ardores dos desejos
Gemidos ardentes sufocam-se no tecido de seda

É ele que veio declarar guerra ao tecido
Ataca-o com fúria como touro na arena
E ela que era branca agora disputa com a seda
O vermelho enquanto o poeta espia e expia...

O Duelo


O Duelo

Tardes cinzentas sobre a colina
Tentei buscar Deus para duelar-nos
Lançá-lo pela ribanceira com voracidade
E chorei quando Ele se acovardou

Aos prantos gritava o Seu nome em vão
Xingava-o, feria o meu próprio corpo
Como se ferisse o corpo da divindade
E duelei comigo mesmo em tempos de agonia

Dentro de mim passavam tantas tempestades
Tantos seres duelando dentro de mim
Que eu me joguei pela ribanceira abaixo
E o doce Criador apresentou-se a mim

E as tardes que eram cinzentas ficaram azuis
As tempestades viraram brisas de paz
E no colo do criador duelei e renasci
E sonhei com um novo Deus mestre da paz




















A Gaiola


A Gaiola

Encolho-me dentro de minha gaiola
Sou pássaro desde que nasci
Deus insistiu em me dar asas
Mas não para alcançar o céu

Deu-me asas para ficar sob as nuvens
Para ser ferido constantemente por raios
Para assustar-me com seus violentos trovões
Por isso escolhi viver em minha gaiola

Muitos poetas sonharam em ter asas
E eu as tenho sem ter sonhado em tê-las
Deus não escolhe os poetas, eles nascem
Mas Ele escolhe a quem dar malditas asas

Ah, criança, onde está o teu bodoque?
Por que não atiras neste triste pássaro?
Não permita que sua doçura, criança,
Abra as portas desta triste gaiola!

O Aborto


O Aborto

Voltei para dentro de um útero
Para fazer o que não fizeram outrora
Tomar meu licor verde de mato
E morrer transformado em sangue

O verde licor com cheiro de sangue
Pulsa em minhas veias frágeis agora
Atinge o meu cérebro velho e insano
Cortando o meu coração já cansado

Quando o sangue penetrar a terra
Fertilizando-a para dar vida ao mato
Serei mato, não mais serei sangue
Para servir o licor ao filho indesejado

Um mato verde de flores vermelhas
Pulsando forte aos olhos desenganados
Que buscarão no amargo e fatal licor
Tirar do útero o filho que não fora amado

Juliana Fumando


Juliana Fumando

Um banquinho no meio da roseira
Ao lado de uma pitangueira
Ou quem sabe de um pé de acerola
Sempre confundi as duas frutas

O que eu nunca confundi foi Juliana
Sentada, olhar intrigante fumando
Eu sempre correndo risco de ser morto
Pela fumaça branca do cigarro

Mas se nem as roseiras reclamavam
E a pitangueira imitava o seu gesto
Sorrindo entre as rosas do jardim
Que minha reclamação virou poema

Que inveja dos grandes pintores
Esta cena daria uma linda tela
Há quem diga que a tela é eterna
E a poesia? A poesia sou eu e Juliana

RG


RG

Olho para a mesinha e vejo o RG
Tantos dados que me puseram
Tantos sentimentos me impuseram
E eu sou só um polegar apagado

Embaixo o nome dado por minha irmã
E eu o confirmo com minha assinatura
Mesmo sem saber se sou este ou aquele
É, o polegar vale mais que a assinatura

Viro o outro lado e vejo o malfadado 24
Somo os números e acho o número seis
Vênus na cabeça: deusa do amor e vingança
Bênção pai, bênção mãe, sou canceriano

 Abaixo um Tal de Carlos Antônio G. Sequeira
Gente importante, delegado, mas não por isso
É importante porque valida minha identidade
Esta identidade que tanto evito e desconheço

Guias de Luz


Guias de Luz

O meu semblante suave denuncia
Que Guias de Luz estão junto a mim
Toda aquela agonia hoje cheira jasmim

Os meus Guias de Luz suavizam a face
Faz um lago doce correr dentro de mim
E um lindo peixinho dourado me sorri

Neste meu lago sereno brotam flores
Copos-de-leite em forma de cristal
Abrigando meu suave rosto imortal

Minha angústia virou pequenas pedras
No fundo do lago abrigam verdes algas
Que brilham nos meus olhos de esmeraldas

Serenamente, mergulho no meu lago
E nos meus olhos vejo os olhos de Deus
Que me abriga puramente nos braços Teus

Decadência da Cadência


Decadência da Cadência

Proíbo-te de fazer poesias
De andar pelo cais
De soltar os veleiros ancorados

Proíbo-te de fazer poesias
De viver nos ateliês
De roubar amores pintados

Proíbo-te de fazer poesias
De roubar as asas dos pássaros
De infiltrar no arco-íris cores imaginárias
Proíbo-te de fazer poesias
De abrir o meu peito cansado
De revelar a dor ocultada

Proíbo-te de fazer poesias
De ser melhor que minha raça
De dar cadência à arte

Proíbo-te de fazer poesias
De ser mulher Meireles
De ser poetisa Machado

Proíbo-te! Proíbo-te!
De tirar a decadência da poesia
De salvar a cadência das palavras

Dom Casmurro


Dom Casmurro

Há um Bentinho em mim
Que afasta de tua realidade
Que me faz entregar a ti
E depois repudiá-la

Há um Bentinho em mim
Quer me faz sentir repudiado
Que me faz entender a ti
E depois me sentir culpado

Há várias Capitus em ti
Que me embala
Em sonhos alucinados
E me mostra a realidade
Há um Bentinho em nós
Que nos faz reconhecer
Os sentimentos escondidos
O lustre do anoitecer

Há uma Capitu em nós
Que zomba do sentimento
Afasta-nos; corrompe-nos
Fecha o romance sem lamento

Dona Lió





Dona Lió

Tão lentos teus passos, querida!
Ainda te vejo andar pelas ruas
Franzina de cabeça baixa
Vítima da negligência dos filhos

Tão lentos teus passos, querida!
Que cheguei até a esperar
Que virias ao meu encontro
Correndo para me abraçar

Tão lentos teus passos, querida!
Naqueles tempos e agora
Que de te ver ainda sinto
Mesmo tendo ido embora

Tão lentos teus passos, querida!
Quantas tristezas há em ti
Tão lentos teus passos, querida!
E não consigo alcançar-te daqui

O pé de laranja


O Pé de Laranja


Morava no fundo do meu quintal
Verde! Mas cheio de espinhos
Não dava frutos, não me sorria
Era senhor de si e eu tão criança

Quando abandonei a velha casa
Notei na despedida, dois frutos
Tão longe de mim, longe de tudo
E hoje tão perto de minha memória

Tentei derrubá-los com uma vara
Mas desisti na esperança do mel
Que eles poriam nos meus lábios
Outros provaram da sua doçura

Quem parte não pode possuir o fruto
E só depois dos anos eu percebo
Aquele fruto era eu simplesmente
Logo, nunca provei nem  me deixei provar